PARIS

JE T’ AIME

Todos dizem eu te amo para esta cidade feita de pequenas e grandes tentações. A cada esquina, um deslumbramento. A cada minuto, a sensação familiar de que Paris é igualzinha ao que a gente imagina

Por Cristina Ramalho

O amor começa. No primeiro croissant quentinho. No primeiro beicinho da Bardot. No primeiro Truffaut visto num cinema cult do centro, uma xícara de café na saída, saboreado com o jornal na mão, sem pressa. No primeiro pedaço de camembert. No primeiro beijo numa moça avoada de cabelo curtinho, a cara da Jean Seberg ou da Juliette Binoche, ou, vá lá, da Audrey Tatou, aí vai depender da sua idade. Na primeira vista da Torre Eiffel. Nas primeiras bolhas de champanhe geladinho. No primeiro Je t’aime com aquela voz meio suspeita do Serge Gainsbourg. O amor por Paris começa na primeira impressão.

Tanto faz se você já viajou para lá ou não.

Essa cidade que todo mundo ama um pouco a cada dia, só de ver nos filmes, nos livros, nos menus de restaurantes, nas pinturas, nas fotos de mestres, poderia ser um perigo quando vista de verdade, como uma moça muito linda por quem é tão fácil se apaixonar à distância. Acontece que o grande charme de Paris é que ela corresponde como nenhuma outra às fantasias. Os clichês que conhecemos de cor estão lá, lindos de morrer, iguaizinhos, fiéis ao nosso imaginário. A Ponte Neuf dos amantes, o Arco do Triunfo, as margens do Sena para caminhar de braços dados com alguém para se fazer grandes planos. Claro, a Torre Eiffel, onde outro dia mesmo nem o Tom Cruise resistiu a tanto clima e acabou pedindo a atriz Katie Holmes em casamento.

O Louvre só mudou um pouco porque nos últimos anos botaram uma pirâmide na frente, mas fora isso (ou com, a opção é sua), o glamour continua o mesmo. Sente-se no delicioso Café Marly, dentro do museu, olhe ao redor. É, é aqui que mora a Mona Lisa. E mais quase um terço da arte importante do planeta. Do outro lado do Sena, fica aquele museu ainda mais bonito, o D’Orsay, onde antes funcionava uma estação ferroviária. Um prédio encantador, coberto de vidro, banhado pela luz abundante para se apreciar os artistas que até hoje melhor captaram a luz: os impressionistas. Você sabe: Renoir, Monet, Manet, e mais tarde Cézanne e Van Gogh, rapazes que já andaram, sem dinheiro, por essas mesmas calçadas onde agora você passeia, embasbacado, reconhecendo em cada esquina as aulas de História.

Bate uma sensação familiar nessas súbitas visões de beleza sonhadas. Tudo que a gente aprendeu, aconteceu, sim, e virou manchete. Vamos entrar em qualquer dos cafés de Saint-Germain, como o de Flore ou o vizinho Deux Magos, e escolher uma das mesas em que os modernistas brasileiros bebiam Absintho em busca da felicidade, enquanto Picasso rabiscava uns guardanapos, um olho nas curvas das moças, outro no copo, e Chagall, já meio torto, discutia com o garçom por causa da conta. Não olhe agora, mas o garçom também parece um velho conhecido. O mau humor dele é outra famosa instituição parisiense que não se alterou com o tempo.

Não é que Paris só viva do passado. Mas para quê mexer em certas coisas boas da vida? Basta andar assoviando pelo Jardin das Tuilleries e conferir a simetria das árvores, tão certinhas, para constatar: Paris foi cuidadosamente planejada para seduzir os visitantes. Primeiro vem a atenção aos detalhes: as janelas todas têm flores. A comida chega no prato em porções pequeninas, desenhadas, para dar vontade de pedir mais. Os homens e mulheres franceses, mesmo quando não são muito lindos, entram sempre gloriosos em cena, com uma echarpezinha aqui, um paletó divino. Depois, tem o marketing poderoso, porque a França tratou de espalhar seu estilo de vida para o resto do mundo em todas as épocas.

Era très chic ser francês na corte de Luís XV. Foi essencial ter os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade quando rolaram as cabeças dos reis. Foi moderno à beça zoar pelas madrugadas parisienses durante os loucos anos 20. Foi revolucionário protestar nas barricadas de 68 e se vestir todo de preto, com aquele ar distante, de que nada mais vale a pena, dos existencialistas.

Hoje os americanos podem mandar e inventar moda o quanto quiserem, mas chique no último mesmo sempre vai ser torrar o cartão de créditoem Paris. Depreferência, no triângulo dourado, aquele trecho entre as avenidas Champs-Elysées, Montaigne e George V, repleto de grifes inacreditáveis. Bem ali fica o Plaza Athenée, hotel predileto da gente fina brasileira, onde já morou Marlene Dietrich e agora os árabes que chegam em limusines pedem caviar iraniano no café da manhã a 700 euros a porção. Não muito longe, na Place Vendôme, veja só o Ritz, que hospedou a trágica história de amor de Lady Di e Dodi Al Fayed. Aproveite e espie as joalherias, tão absurdamente esplendorosas quanto a arquitetura do século 17 deste pedaço.

Mora na filosofia

Do luxo às idéias, Paris continua embalando os sonhos. Particularmente os da geração que saiu emitindo opinião nos anos 60, quando o que os franceses diziam não tinha par. Se você é dos que cresceu vendo filmes de Godard e acendia um cigarrinho de lado, pensando em Sartre, Simone de Beauvoir e Camus, vai sucumbir ao charme dos bairros boêmios. Montmartre, com suas ladeiras e becos encantadores e seu je-ne-sais-quoi da paulistana Vila Madalena. É a alma francesa nas lojinhas de queijos, vinhos, carnes, nas mulheres que param para comprar baguette, nos predinhos que foram antigos ateliês, com janelões de vidro, como aquele em que Shirley MacLaine seduz Jack Lemmon em Irma La Douce.

Para quem nem faz idéia do que estamos falando, Montmartre é também a locação do blockbuster francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. O café onde ela trabalhava existe mesmo e é – como tudo o mais nesta cidade – igualzinho ao que se vê no filme. Um tour cult precisa também passar por Montparnasse, áreaem que Picasso (sempre ele), Blaise Cendrars, Calder, a turminha animada e cheia de idéias, parava para comer noLa Coupole e dançar no salão ao lado. Ainda dá para jantar ali e dançar, mas o som agora quem toca são os rappers, filhos dos muitos imigrantes africanos que colorem a nova e sacudida Paris. (veja Box)

E tem ainda o Marais, um dos bairros mais antigos de Paris, que já teve dias de glória, escorregou e agora virou endereço de charme outra vez. É outro lado cult da cidade, com irresistíveis lojinhas de design, a Place des Voges com suas 36 casas simetricamente arranjadas, o Museu Picasso, e a vista maravilhosa para o Hotel Deville, a prefeitura parisiense. No Marais fica também o Centro Pompidou, o lado arrojado, arquitetura de tubos, para quebrar tanta harmonia da velha e boa Paris. Foi aqui no Marais, talvez atraído pelo espírito de romance que exala de cada bistrozinho (e são muitos os bistrôs neste pedaço), que Chico Buarque, o brasileiro que sabe de amor, escolheu para ter seu apartamento francês.

Chico também já sucumbiu à sedução e andou sapecando em letra: “Tu ris/Tu meurs trop/ tu as la tropique/ Dans le sang et sur la peau”, escreveu, apaixonado, em Joana Francesa. Ele, você, eu, todos sabemos que por qualquer coisa, a qualquer momento, o amor começaem Paris. Nesta cidade que engarrafou a sedução em perfumes, que inventou o beijo de um jeito só deles, que faz do supérfluo algo essencial, o amor começa.

18 Comentários (+adicionar seu?)

  1. Cristina Marques
    jun 09, 2011 @ 02:17:08

    Lindo texto.Sua sensibilidade é extraordinária! parabéns!

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  2. Debora Fontenelle
    jul 27, 2011 @ 14:39:09

    Muito bom, vale uma viagem a Paris!

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  3. kabeto peixoto
    ago 24, 2011 @ 23:01:04

    Que bela inspiração !! Para quem conheceu este lugar maravilhoso, nada melhor que reviver com estas imagens propostas nestas palavras…

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  4. Marcus
    fev 18, 2012 @ 20:01:12

    Maravilhoso! Paris enche os olhos a cada esquina. Emociona a cada segundo. Obrigado pela recordação…

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  5. giovanna
    fev 24, 2012 @ 14:33:22

    isso e muito bonito adorei

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  6. giovanna
    fev 24, 2012 @ 14:35:25

    essa foto e muito bonita e tambem vou viajar para pariz aqui a pouco entao isso compenca.EU ADOREI

    ABRACOS E BEIJOS GIOVANNA

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  7. CARLA PEREIRA LOPES
    mar 10, 2012 @ 18:37:02

    NÃO À COISA MAIS LINDA DO QUE ISTO!!!
    SEM DÚVIDA.
    ADORO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    UAU!ESPETACULAR

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  8. CRISTINA
    mar 10, 2012 @ 18:40:29

    ISTO É LINDO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    BEIJINHOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  9. Kênia
    abr 06, 2012 @ 05:37:02

    Hoje estou saudosa, tendo em vista que há exatamente um ano me despedia de Paris. E, navegando na net, me deparei com seu artigo. À medida em que lia, voltei à velha e linda Paris. Só não me esqueci de passar pelo Moulin Rouge e às estações de metrô, que dão um charme à cidade. Parabéns pelo artigo. Adorei!!

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  10. sheila m. c. goncalves
    maio 06, 2012 @ 22:33:22

    gostaria muito de conhecer paris, é o meu sonho. sheila

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  11. mateus
    jun 03, 2012 @ 01:40:06

    a paris e uma cidade maravilhosa e tudo de bom e quem conhecer se expira só de falar de lar né verdade porque e uma coisa linda sabe porque e um lugar cheio de expiração eu conheso e muito lindo

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  12. Adriana
    jun 17, 2012 @ 05:18:49

    Ah! Que saudade de Paris… Cheguei faz menos de um mês, mas se pudesse ainda estaria lá… Paris é um sonho lindo!!!

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  13. romario
    set 23, 2012 @ 15:10:00

    lindo bonito

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  14. Maria Alves
    dez 17, 2012 @ 14:03:44

    Maria Alves
    Eu adoro saber algo sobre Paris. Um dia, tenho muita fé,
    ainda passearei por lá.

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  15. Camila
    dez 28, 2012 @ 03:54:02

    Paris <333'

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  16. telma rocha
    ago 10, 2014 @ 23:42:47

    Parabens! Descricao muito inteligente, e o que podemos chamar de “historistica”. Onde consegiu abordar de uma forma elegante e com conhecimento a historia e as belezas turisticas dessa moca eterna (Paris). Parabens! Telma Rocha-fortaleza-Ceara-Brasil.

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